Te amei como uma barragem trincada

Eu tava de 4 por você.
Desde aquela tarde
em que eu andava desesperada,
com a bexiga cheia
e a pele sensível.
Sentia cada fibra da meia suada
em volta do meu pé
e meu pé dentro do tênis,
mas só conseguia me concentrar
no bico duro do teu seio esquerdo
cutucando de leve meu braço direito.
Meu universo convergia
naquele ponto de contato,
no meu peito girava
com força máxima
as turbinas da hidrelétrica
lá no Sul do meu corpo. 
Senti no teu hálito
o cheiro da minha buceta.
Ai, minha América Latina!
Pré-colombiana, nativa.
Sativa.
Uiva comigo esta noite,
antes que a lua mingue, eu roguei.
Não teve jeito. Rompi.
Quantas Marianas eu tive,
soterradas em lágrima e lama?
Quantas terei, quantas serei?
Amélia é que era mulher de verdade,
aquela ela que não tinha vaidade,
embora nunca tenha sido cidade.

Paixão de regresso

I.
Senti de longe
O cheiro na mão da menina
Colegial e já mais alta do que eu

II.
Prensada entre os passageiros,
O prensado viajava na cabeça

III.
Chovia
Água do céu lavando o chão
E ela punha a mão na terra

IV.
Nunca foi tão difícil pegar ônibus
Caminho longo até em casa
Vários postes cruzando suas vistas

V.
Ai como eu queria
Te arrancar da terra
Com raiz e tudo
E te fazer hidropônica
E te beijar na chuva.